terça-feira, 30 de agosto de 2011

De mim para eu mesma

Sentaste curva sob um céu sem estrelas
Pra sentir se o vento algo trazia?
Tiraste a roupa em meio ao frio
Pra ver se calada na calada da noite era tocada?

E se torna-te mulher
Ao parar de em outros olhos ser vista como carne?

E se a lua te trouxesse flores?
Se o vento te cantasse uma canção que te fizesse sorrir?
E se pudesses rasgar essa velha angústia e demasiá-la no concreto?

O se trouxe-te o impulso de ser tão triste
O fracasso da tentativa de criar um sim em meio a um não
Coube-te o silêncio

Que só acompanhava um lindo olhar misterioso
Que tentavas tapar sua fadiga
Em seus dentes quase retos de amargura

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Novos ares

Pra quem vivia bem, olha só...
Não é preciso enxergar muito
Espanto-te com meu brilho?
Talvez as ondas do mar estejam fadigadas de lutar
Contra as correntezas que vieram lentas de um lugar profundo
Fundo, fundo... Do peito meu
Veio-me como um posseiro
Fazendo com que eu sorrisse
E suspirasse profundo como uma boba mal acordada
Jaz estou eu, presa no espelho admirando a paisagem de ser
Uma inquieta mulher apaixonada...

No que ninguém vê

A chuva caiu já era tarde
O pranto se abriu já era velho
O desespero fez-se silêncio
Um silêncio inquieto, paralelo, transverso
Eu peço pra que calha
A cabeça agora é translúcida
A canção é muda, mudou-se pra Espanha
A porta se fechou
O que além de dentro partiu fui eu
Mas essa não volta
Se voltar
É preciso que o silêncio se cale
Ou faz barulho pra me dar ritmo
Mas se não vier
Não voltar, não traçar
Não te preocupes se eu me calar
Porque se me calo, é pra que na poesia
Tu me encontras nas entrelinhas
Dos versos não escritos

Torna-te vácuo

A fúria de eu peito calou-se
A imagem em desespero traçou-se
As lágrimas jaz secadas - o amor?
Quem é que disse do amor?
Quem é que além do meu peito sabe desse amor?

- É quase notícia em folhetim
É até enredo de samba

Mas calou-se
Parece ter morrido junto àquele que a sete palmos vive de nós
Parece ter sido enterrado e tirado de mim
Assim como aqueles que se foram porque assim quiseram

Calada da noite que agita ventos turvos por dentre ventanas dessa mente
Imagens tuas que engatinham na minha frente
Já não peço pra parar
Já posso olhar e suportar que você se foi
Já posso senti-lo longe no espaço
E posso até, ah... Eu posso
Ver-te à léguas
Desaparecendo como um návio por dentre o mar

Velhos versos

Espero-lo-ei até que a morte de meu corpo se sacie
Saciada então
Sei que não virias
Turbulência...
Vida mal vivida
Rasgante na ferida
Flores que de tão lindas,
Flore uma flore não mais florida
Se volta, volta com mais peito de ser ignóbil
E fere, fere devagarinho
Quase cansado
Meu peito então é pedra
Se perfuras
Digo ligeiramente que não
Se te espero
É pra num sorrir dizer:
O amor jamais padeceu,
mas tu morreste cruelmente em minhas pulsantes veias

Artificial

Se versos coubessem a dor que trago no peito
Se fumaça fosse suficiente pra mostrar como ardem essas calorosas lágrimas
Se houvesse algum lugar que me acolhesse
Que me tirasse desse sufoco
Se eu pudesse dizer
Se eu pudesse cantar, ou até mesmo brincar
Com palavras que me ajudassem...

Que braços são esses que não cabem tamanha angústia?
Que ouvidos são esses que se surdam ao me ouvir na calada da noite?
E minha falta de voz?
Ah, se o mundo me ouvisse!
Passaria fome pra darcomida aos que sentem fome
Sentiria frio pra dar calor a quem teme o sereno

Mas seu eu pudesse dizer
Que eu não acredito no mundo
E que todo mundo deixou de acreditar em mim?

Se uma gargalhada sequer,
Se um domingo se instala
Porque não sorris comigo?
O vento é o único que me guarda

Porque esse negro céu não desaparece?
Porque esse imenso coração não se aquece?

Sento-me diante da justiça
Mas ela não me serve
Se me serve
Porque senta-te calada?

Sinto brecando e pedindo ajuda
Mas a quem socorrer?

Pedir comida a quem sente fome?
Justiça às mães que perdem seus filhos?
Ou até mesmo paz a quem mata a um tiro?

Mundo confuso
Porque hei de acreditar em ti?

Se quem me pôs no mundo
É morto mesmo vivo?
Se peço silêncio e ouço gritos?

Poeta louco
Morte agoniada
Doença de falta

Falta de tudo
Num mundo de nada

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Intimidamente massacrado

Se deixo-o ir
Sufoca a dor suprema
Mas se fica
Que estrago é esse que solidifica?

Pois então,
Abro a porta
Preciso de ar!

As trincas já eram frouxas demais
Fiz questão de destrancá-las
Para que a aurora serena entrasse devagar
E tu saísse depressa

Entre devagar!
Saia depressa!

Tu, tens poder tamanho de destruição
Oh... De auto-destruição!
(Mal o sabe)

Se transborda no deleite de me massacrar na tua vida
Meu bem,
Eu te excluo de dentro de mim!